Amigos leitores, gostaria que lessem a carta abaixo escrita pelo professor Bruno Dutra para seu ex professor Ricardo Faria (muitos devem conhecê-lo, gerações estudaram com seus livros didáticos de história "Os caminhos do homem...") para ser divulgado no Boletim Mineiro de História, publicação eletrônica que nosso colega já contribuiu antes.
Fiquem com a sua carta:
"Bom dia professor,
Gostaria de informar a respeito da greve de professores que está havendo. O movimento tem tomado grandes proporções e como vc sabe, o governo não permite que sejam veiculadas informações contra si, portanto precisamos do máximo de divulgação. Como de praxe, esse governo repressor já começou com suas atitudes arbitrárias. No dia 26/04 último, a secretaria de educação Vanessa Guimarães editou uma resolução dando falta aos grevista e obrigando os diretores e contratarem professores substitutos. Pela lei de greve, isso é ilegal, pois as faltas de grevce são justificadas e nesse período, os contratos podem ficar suspensos e não pode fazer contratações (te mando a resolução e a resposta do sindicato via anexo).
Óntem pela tarde todas as regiões do estado fizeram atos públicos. O de nossa região foi na cidade administrativa, e lá tivemos a prova do governo repressor e ditador que temos. A polícia militar já estava no local quando chegamos, fecharam a entrada do "Palácio do Governo" e fomos impedidos de entrar em local público. Então, decidimos fazer um movimento pacífico e fechamos a MG 10 nos dois sentidos, causando certo transtorno, mas visibilidade ao nosso movimento. Depois, o sindicato decidiu fazer novo ato na secretaria de educação, situada na avenida Amazonas na Gameleira, mas a polícia militar tentou de todas as maneiras e de formas mais arbitrárias impedir o movimento.
1 - Não permitiram que os ônibus do sindicato (no total de 10), prosseguissem pela MG 10, e foram nos "escoltando" pelo bairro Serra Verde, nos enfiram no meio de uma favela e foram embora, dificultando a manobra dos ônibus e atrasando o movimento.
2 - Quando conseguimos prosseguir, a polícia militar foi nos perseguindo e alguns ônibus foram parados no Anel Rodoviário, sem nenhma justificativa e impedidos de prosseguir. Atrasando em mais de 2 horas nossa chegada a sede da secretaria de estado de educação. Estavam cerceando nosso direito, enquanto cidadãos num país ‘democrático’ de ir e vir, transitar pacificamente pela cidade.
No entanto não desistimos, persistimos e conseguimos chegar ao local e concretizar nosso ato, sempre sob as vistas da polícia, é claro.
Isso mostra como que o governo do Estado vê e trata os professores. Somos tidos como inimigos, veiculam informações totalmente mentirosas a respeito do nosso movimento, fazendo uma propaganda errada de que cumprem a legislação federal vigente de piso salarial.
O piso salarial atual de um professor de educação básica giram e torno de R# 369,00. De profissionais com nível superior, o piso está por volta de R$ 510,00; chegando ao teto (com vantagens, incluindo auxílio transporte de, pasme, R$ 36,00, a R$ 850,00). O aumento de 10% da categoria não é para o piso, mas para o conjunto, chegando no máximo a R$ 950,00 (o teto). Além de não atenderem aos anseios da categoria (que hoje se encontra miserável), não cumprem o PISO SALARIAL NACIONAL que é, atualmente de R$ 1.312,00 para no máximo 40 hrs semanais.
O que mais me indigna é o fato de que nossa luta é legítima, não pretendemos nada mais do que o que é justo e legal. Não consigo entender porque não se cumpre uma lei que já foi votada e estabelecida, que está em vigor e nada acontece. E quando buscamos nossos direitos somos perseguidos e reprimidos.
Lembro-me das aulas na faculdade de história e as pesquisas que eram feitas sobre os regimes ditatoriais e percebo (claro que guardadas as devidas diferenças), que o estado, que se diz tão democrático e que mesmo com uma constituição democrática, não condiz com essa realidade. E nada acontece, não há punição para o Estado. E ficamos reféns desse Estado.
O site da secretaria de educação vem divulgando – o que pode ser conferido em www.educacao. mg.gov.br -, notas falaciosas sobre nossos ganhos e sobre a atuação do Estado junto aos professores.
Finalizo dizendo que todos nós que estamos nessa luta, mesmo com todas as dificuldades advindas (hoje o movimento grevista conta com certa de 75% de adesão em todo o Estado de Minas Gerais), estamos nela por que amamos nossa profissão, a escolhemos e acreditamos na necessidade de nosso ofício e da importância dela para o futuro e o presente de nossa nação. Não somos sacerdotes, somos profissionais e exigimos que sejamos tratados como tal, e um salário – mesmo esse piso de R$ 1312,00 sendo irrisório -, é o mínimo, precisamos nos alimentar, nos vestir, nos tratar, sustentar nossas famílias, enfim; termos um VIDA com dignidade. Por isso, peço encarecidamente que divulgam essas informações. Só queremos nosso direito e mais nada. Se conseguirmos, voltaremos a nossas atividades, como sempre a fizemos e, mesmo com todas as dificuldades de nossa profissão, faremos (como já fazemos) da melhor forma possível.
Só tenho a agradecer."
Prof. Bruno Dutra
dutrab@hotmail. com
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