Um nome para não ser esquecido: João Cândido
"Na história das lutas sociais brasileiras brilha a revolta dos marinheiros, movimento que golpeou e traumatizou as elites e a aristocrática oficialidade da Marinha e constitui uma impressionante saga popular.
Era 22 de novembro de 1910, navios da Marinha de Guerra brasileira estavam aportados no Rio de Janeiro; e diante de toda a tripulação o marinheiro Marcelino Rodrigues era submetido à chibata recebia 250 chibatadas no convés do navio Minas Gerais. Foi esse o estopim para a revolta que já vinha sendo articulada Liderados por João Cândido rapidamente dominaram a situação, eram 2.379 marinheiros em 24 navios que compunham, então, a terceira potência naval do mundo. O Rio de Janeiro ficou então à mercê de João Cândido e de seus companheiros, que mantinham os canhões apontados para a cidade.
Sob pressão, o presidente Hermes da Fonseca acatou as reivindicações dos insurretos: o fim da chibata; melhores condições de vida e trabalho e anistia aos revoltosos. No dia 26 de novembro, João Cândido entregava as armas e devolvia os navios ao comando dos oficiais. Acreditara na sinceridade do presidente.
Dois dias depois, Hermes da Fonseca baixou um decreto expulsando da Marinha por indisciplina os participantes da "Revolta da Chibata". No dia 9 de dezembro, foi decretado estado de sítio e centenas de marinheiros presos. Muitos morreram de sede, calor ou asfixiados com cal na llha das Cobras. Outros foram fuzilados e lançados ao mar, quando eram conduzidos em um navio para a prisão na Amazônia.
João Cândido sobreviveu à llha das Cobras, mas contraiu tuberculose. Em 1912 foi levado a julgamento, e a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos contratou para defendê-lo um renomado advogado: Evaristo de Moraes.
João Cândido é absolvido. Mas não fazendo mais parte da Marinha, passou a enfrentar dificuldades, e por sessenta anos viveu sob o signo do martírio e da injustiça. Mas nunca arrependeu, nunca se deixou abater. Morreu no dia 6 de dezembro de 1969, aos 89 anos de idade, sem ter obtido da Marinha do Brasil a anistia que pleiteou.
Na década de 1970, Aldir Blanc e João Bosco homenagearam João Cândido com a música "Mestre sala dos mares". Originalmente a letra da música cantava o "almirante negro", expressão proibida pela censura da ditadura militar. João Cândido foi assim exaltado: ( ... ) tinha a dignidade de um mestre sala ( ... ) Salve o navegante negro, que tem por monumento as pedras pisadas do cais ( ... )".
"Quando um herói humilde é cantado pela boca do povo ele não está apenas no coração de sua gente. Seu lugar é no altar da pátria. .. João está a caminho, queiram ou não. É uma questão de tempo. " (Edmar Morel)
Você conhecia a história deste homem? Mais um na nossa triste história de preconceito e injustiça social...
Eu não conhecia, Cris, essa história. História triste e tenebrosa do nosso Brasil. Beijos de liberdade
ResponderExcluirRealmente Antonio José, você falou tudo: história triste e tenebrosa deste nosso Brasil desconhecido de muitos.
ResponderExcluirEu também fiquei conhecendo só agora através do professor de história da minha escola e meu amigo João. Achei que valia a pena dividi-la com meus amigos.