Caras professoras e caros professores,
Gostaríamos que dispusessem de um pouco de seu tempo para refletir conosco
sobre um processo que vem ocorrendo no Brasil e, no nosso entender, lhes diz
respeito diretamente, enquanto profissionais, em, pelo menos, dois aspectos.
Tal processo liga-se à realização da Copa do Mundo de Futebol, mas não começa e
tampouco termina com ela. O caso é que, mesmo que se tenha festejado a escolha
do nosso país para sediar um dos mais suntuosos eventos esportivos do mundo, é
preciso ver o que ele de fato aponta como legado para nós brasileiros.
Com relação ao primeiro aspecto da Copa que lhes diz respeito, professoras
e professores, vocês sabem, melhor do que nós, que a qualidade da educação não
começa nem termina dentro da sala de aula. Não é esse um dos motivos para que
se reivindique melhores salários aos profissionais da educação pública?
Entendemos que a Copa do Mundo de Futebol vem aprofundar o processo
histórico de arrocho salarial do professorado, uma vez que se está gastando
bilhões, isso mesmo, BILHÕES, para a construção das infraestruturas exigidas
pela FIFA que, além do mais, servem para produzir um modelo de cidade – do qual
falaremos mais adiante – pernicioso para a maioria da população.
Quantas moradias, parques, ciclovias, praças, ginásios poliesportivos,
teatros, escolas poderiam ser construídos com este dinheiro? Quantas reformas e
aparelhamentos de hospitais? Quantas obras de saneamento básico, contenção de
encostas e redução e prevenção às enchentes? Pode-se até realizar a Copa, mas
ao invés de se gastarinutilmente com ela, poder-se-ia investir em
promoção social. Quem vai dizer que o Mineirão ou o Maracanã, embora pudessem
precisar de “ajustes”, não eram excelentes estádios?
O caso é que, quando se trata de atender aos interesses dos ricos, o
dinheiro aparece, mas quando, por exemplo, professores empunham sua justa
bandeira de melhores salários, os governantes de plantão alegam que o orçamento
está apertado e que o salário pago é bom e é o máximo que se pode oferecer –
além de acionarem a polícia para cumprir seu papel fundamental de reprimir as
necessárias lutas do povo.
Tudo bem, a Copa pode não ser a responsável pelo arrocho salarial, mas
lembremos que estamos falando de um processo que não começa e tampouco termina
com ela. Quantos anos serão precisos para pagar estes volumosos gastos em
aeroportos, sistemas de transporte, estádios (todos visando às demandas da Copa
e não da população) e com isso manter o orçamento apertado de modo a não
possibilitar aumentos salariais? E tem mais: além do estado arcar com enormes
gastos (repisemos: todos visando às demandas da Copa e não da população.
Lembremos: com dinheiro dos impostos pagos por toda a população, sobretudo os
trabalhadores), a FIFA e seus parceiros foram agraciados com a isenção de
impostos e a reforma e construção de hotéis receberão “incentivos”.
A propósito, o prédio onde funcionava o Ipsemg na Praça da Liberdade, em
Belo Horizonte, foi alugado por 35 anos para um amigo do ex-governador mineiro
Aécio Neves ao custo mensal de meros 15 mil reais. Pena que não há outra
palavra, porque fica difícil chamar de custo quando se considera que são apenas
15 mil reais para explorar comercialmente um prédio daquele tamanho numa das
áreas mais valorizadas da capital mineira.
O segundo aspecto, mais amplo, refere-se aos atingidos pelas
transformações que as cidades-sede do mundial estão passando. Como principais
atingidos, milhares de famílias estão perdendo suas casas para construção de
sistemas de transporte para atender às demandas dos turistas do mundial. Vejam
bem: brasileiros estão perdendo suas casas para o divertimento de estrangeiros!
Dentre outros, há também os que trabalhavam no entorno dos estádios, vendendo
desde camisas de times até alimentos, que não mais poderão exercer sua atividade
de subsistência.
Vocês podem estar se perguntando: e o que a educação tem a ver com isso?
Ora, quem são aqueles para os quais vocês dão aulas nas escolas públicas? Não
são os filhos dos trabalhadores empobrecidos? Embora muitos de vocês possam não
ter alunos vivendo este drama, lembremos, mais uma vez, que estamos falando de
um processo que não começa e tampouco termina com a Copa do Mundo de Futebol e
também não diz respeito apenas às cidades-sede do megaevento.
Por isso, vale corrigir: este megaevento tem servido, na verdade, para
aprofundar um modelo de cidade que marca a urbanização em nosso país, isto é,
modelo no qual o pobre não tem vez, a não ser, porque não tem outro jeito, para
trabalhar – quando ele tem um trabalho, claro. É um modelo de cidade cujo
sentido não é o de atender às necessidades e direitos da população, tais como
saúde, esporte, lazer, moradia, educação, e sim auferir lucros para uma parte
da população historicamente privilegiada – porque não dizer, é um modelo de
cidade produzido pela e para a elite dominante.
Sendo assim, se observa que produzem a cidade demarcando espaços
destinados exclusivamente aos ricos, com toda infraestrutura e conforto,
enquanto os trabalhadores perdem seus lares e, por consequência, trabalho e
laços sociais, ao serem mandados para longínquas periferias normalmente sem a
menor infraestrutura. Os alunos estão dando muito trabalho na sala de aula?
Mais do que nós, vocês sabem quem são eles e o que passam enquanto filhos de
trabalhadores empobrecidos.
Por estas considerações, e por entendermos que educação pública e de
qualidade exige salários dignos, manifestamos nosso total apoio à luta das
professoras e dos professores em greve para que o governo do estado de Minas
Gerais cumpra a lei do Piso Salarial Profissional Nacional (Lei n° 11.738/08).
Enfim, procuramos aqui apontar dois aspectos que imaginamos estejam
relacionados com as condições de trabalho na educação básica pública, dentre
elas a condição salarial, mas cremos que a questão vai muito além. Nesse
sentido, que tal se vocês vierem conversar conosco sobre a Copa afim de
elaborarmos juntos um entendimento sobre este megaevento que dialogue com
a realidade dos alunos? Ao final deste texto, consta nosso
calendário de reuniões até o final deste ano. Sejam muito bem vindos!
Saudações de luta,
Comitê Popular dos Atingidos pela Copa
2014 BH
Tem tantas escolas nesta país que professores trabalham em quadras sem coberturas é um absurdo com o dinheiro da copa dava para fazer muita coisa nas escolas públicas
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