Obrigada, minha amiga, Santuza, você sempre solidária a nossa luta, sempre a favor da educação, da justiça e da honra!
Vou confessar publicamente, não aguentaria te ver naquele momento, por tudo que já passamos juntas na escola, a favor dos alunos, de uma educação de qualidade, sabendo que para isto o profissional tinha que ser valorizado... e isto não dependia da direção de uma Escola e sim do Governo.
E nós, sempre esperançosas!!!Quando me lembro... daquele tempo, que saudades!!!! Conseguíamos "tirar água de pedra" era simplesmente FANTÁSTICO!!!
Olha, ainda bem que continuamos assim, pois temos certeza que dentro de nosso peito tem um coração que pulsa!!! Um grande e caloroso abraço!Cristina
Compartilho com vocês o texto que a amiga e eternas Educadora Santuza Fonseca escreveu para mim e meu companheiro Euler:
" Companheiros de utopia,
Que tristeza!
Não tenho outra palavra para me dirigir a vocês. Durante 48 dias tenho acompanhado a movimentação da nossa classe em prol da valorização profissional através dos blogs, porque da imprensa a gente nada sabia, ou quando divulgavam algo, as informações não eram confiáveis.
Agradeço a vocês o carinho de me manterem atualizada.
Como educadora e batalhadora pelas questões sociais não poderia ficar ausente num momento em que a minha classe se mobilizava. Muitas vezes quis ir às manifestações que aconteciam às terças-feiras, mas uma coisa ou outra sempre impediam. Encantava-me ver pela televisão ou pelas fotos dos blogs a luta e a alegria dos companheiros em prol da causa Ontem eu disse, hoje não tem jeito. Quero participar da passeata e soltar também o meu grito de revolta.
Com o silêncio da imprensa, com as propagandas enganosas do governo eu pensava: “esta greve vai dar resultado. O governo está com medo, tanto é que está publicando mentiras”.
Busquei na memória a maior greve que participei a de 1979. Eu iniciando na carreira do magistério. Foi um movimento inesquecível. De lá conseguimos grandes vitórias.
Aí, veio a greve de 2010. Salários achatados, desvalorização profissional me fizeram pensar, que desta vez seria diferente. Os profissionais da educação estavam passando pelos piores momentos. Pensei que eles não iriam recuar diante das intimidações que com certeza viriam. Gente, nós estamos ganhando menos que um policial (não é querer desmerecer).
Ontem na assembléia eu vi o céu e o inferno. Vi o céu pelo número de educadores, pelas manifestações, pelos cartazes e faixas. Conversando com pessoas que estavam ao meu lado eu comentava “_ esta greve não vai acabar, o pessoal está muito convicto”. Vi o inferno quando a Beatriz começou a sua fala, notei que algo tinha mudado. O Comando havia resolvido abortar o movimento. (Desculpem-me não sei a quê preço) Uma pessoa comentou perto de mim –“esta mulher está numa cilada inflamou o povo a entrar em greve e agora parece que ela quer parar e o povo não quer”.
Sabemos o poder do poder. Ele assusta. E as pessoas como num jogo, como que marionetes se deixam levar pelas armadilhas. Aí vem o descrédito. Aí vem a decepção. Vem a dor. E essa dor infelizmente faz com que a cada dia deixemos de ter confiança no ser humano. Deixamos a esperança morrer. Continuando a vida tal qual ela se nos apresenta. Sem luta, sem garra. Viver por viver.
Foi este o sentimento que vi nas pessoas, quando saí. No ponto de ônibus ouvi várias pessoas dizendo “_ não entro mais em greve”. Sei que é o sentimento de momento. Mas que é triste é. É um sentimento de abandono. Tenho certeza que como eu, muitos não conseguiram dormir direito. Não tive “coragem” nem de me encontrar com vocês. Fui na expectativa de voltarmos juntos no ônibus.Mas o meu estado de ânimo não permitiu. Juro a vocês eu chorei. Chorei por mim, por todas aquelas pessoas que ali estavam com um objetivo, chorei lembrando de vocês.Do ardor com que vocês me passavam os e-mails e da esperança que tinham. Não agüentei encontrar-me com Cristina, com Euler com João Martinho, com Cláudia e tantos outros companheiros de garra. Pensei quantas vezes mais teremos de lutar para sermos reconhecidos. Vejam bem, já me aposentei. Nos meus 26 anos de trabalho houve movimentos de greve e até hoje não conseguimos sensibilizar nenhum governante, parlamentar, sociedade, imprensa de que o nosso movimento é legítimo. Eu não agüento mais ouvir falar que as pessoas reconhecem o nosso trabalho, que o nosso movimento é justo, mas nós precisamos pensar também no momento. E quando será o NOSSO MOMENTO?
Não estou boa para escrever hoje. Estou muito piegas e depressiva.
Mas gostaria de cumprimentar vocês pela luta, pela ousadia de sonhar. É isto mesmo o que mantém o ser humano é o sonho. E este, nós não podemos deixar que morra.
Haveremos de vislumbrar dias gloriosos para nós educadores e para a Educação.
Com um carinho extremado
Da companheira de sonhos"
Santuza
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